“A música que dá nome ao álbum é realmente impactante, transmitindo um lado dos Queen familiar, mas, ao mesmo tempo, muito raro, que se manifesta nos variados momentos de invenção” - Vox Magazine
Innuendo, o décimo quarto álbum de estúdio dos Queen e o primeiro da banda nos anos 1990, foi gravado nos Metropolis Studios, em Londres, e nos Mountain Studios, na Suíça, entre Março de 1989 e Novembro de 1990. Seria o último álbum que Freddie completaria, e apesar de a sua saúde estar bastante comprometida durante este período, considera-se amplamente que o álbum contém dos seus desempenhos vocais mais poderosos e emotivos.
Juntando de novo os Queen e David Richards como produtores, depois de uma colaboração bem-sucedida dois anos antes em The Miracle, o álbum Innuendo incluiu alguns dos maiores êxitos da banda e de origem a vários dos seus vídeos mais memoráveis. Infelizmente, ainda que grande parte dos temas fosse perfeita para ser incluída nos espetáculos ao vivo dos Queen, nenhum deles estava destinado a ser ouvido naquele contexto. Embora ainda ninguém soubesse, a banda já realizara os seus derradeiros concertos. Freddie perderia a batalha pela vida em Novembro de 1991, nove meses depois do lançamento do álbum.
O mais perto que os Queen estiveram de recriar os temas de Innuendo numa apresentação ao vivo foi no Freddie Mercury Tribute Concert, em Abril de 1992. Roger, John e Brian cantaram a faixa-título com o lendário Robert Plant dos Led Zeppelin, Robert Plant, e acompanharam Lisa Stansfield e George Michael numa interpretação excepcional de The Are The Days Of Our Lives. O concerto terminou com uma interpretação impressionante de The Show Must Go On em conjunto com Elton John, visivelmente emocionado.
Innuendo foi editado a 4 de Fevereiro de 1991, chegou ao 1.º lugar na tabela de álbuns do Reino Unido e alcançou o disco de platina. O álbum conseguiria também o primeiro lugar na Holanda, Suíça, Alemanha, Finlândia, Portugal e Itália. Lançado um dia depois nos Estados Unidos, atingiu o 30.º lugar, alcançando um respeitável estatuto de disco de ouro, o primeiro dos Queen a conseguir a proeza desde The Works, em 1984.
A capa do álbum apresentava várias ilustrações inspiradas na obra de um artista do século XVIII, chamado Grandville (1803-1847). A ideia partiu de Roger, depois de este ter encontrado um livro do autor e ter mostrado aos seus companheiros um desenho a preto e branco, cujo o título era A Juggler Of Universes. A sugestão foi muito bem recebida e pediram ao director de arte e designer da banda, Richard Gray, que adaptasse a imagem à capa. Ilustrações adicionais de Angela Lumley, também baseadas no trabalho de Grandville, foram usadas na contracapa e em inúmeras capas de singles editados em todo o mundo.
Apesar do agravamento de seu estado de saúde, Freddie encontrou ainda forças para conseguir alguns desempenhos vocais verdadeiramente deslumbrantes para Innuendo. Parecia ter descoberto uma nova dimensão da sua voz e punha toda a sua alma em cada nota. É impossível acreditar que a voz extraordinária em canções como Headlong, All God’s People, Don’t Try So Hard, The Show Must Go On e na faixa-título do álbum possa ser de alguém tão frágil – como mais tarde se percebeu – como Freddie estava na altura. São muitos os que concordam que estas interpretações (e as que mais tarde viriam a surgir no último álbum de estúdio da banda, Made In Heaven) superam grande parte do seu trabalho anterior.
Tal como no disco anterior, The Miracle, de 1989, todas as canções de Innuendo (expecto uma) foram creditadas aos quatro membros dos Queen, independentemente de quem realmente as concebera (All God’s People é a excepção: resulta das gravações de Freddie para o álbum Barcelona, em 1988, e foi escrita em conjunto com Mike Moran.
Quando Innuendo surgiu, em Fevereiro de 1991, foi elogiado pelos fãs como sendo um dos melhores álbuns de sempre e, mais importante, foi também aclamado pela imprensa em todo o mundo. As críticas foram invulgarmente lisonjeiras e, com a entrada do single Innuendo para o 1.º lugar das tabelas do Reino Unido há um mês, os Queen estavam de volta aos tops e na ordem do dia.
Fazendo uma análise retrospectiva, muitas das canções de Innuendo são extremamente pessoais. Algumas foram nitidamente escritas com o conhecimento de que a batalha de Freddie pela vida se aproximava do fim, e com os membros da banda a tentarem adaptar-se à iminente realidade de perderem aquele que mais tarde descreviam como «o membro mais amado da família». The Show Must Go On é talvez a faixa mais comovente e emotiva e, obviamente, aquela que fecha o álbum. Freddie e Brian conceberam-na e desenvolveram-na juntos, com Brian a rabiscar furiosamente as letras para que Freddie as gravasse enquanto ainda lhe era possível.
Innuendo é um triunfo a todos os níveis e tornar-se-ia um clássico dos Queen muito amado pelo público.
Disc 1
1 - Innuendo (Freddie Mercury/Roger Taylor)
2 - I'm Going Slightly Mad (Freddie Mercury)
3 - Headlong (Brian May)
4 - I Can't Live With You (Brian May)
5 - Don't Try So Hard (Freddie Mercury/John Deacon)
6 - Ride The Wild Wind (Roger Taylor)
7 - All God's People (Freddie Mercury)
8 - These Are The Days Of Our Lives (Roger Taylor)
9 - Delilah (Freddie Mercury)
10 - The Hitman (Freddie Mercury/Brian May/John Deacon)
11 - Bijou (Brian May/Freddie Mercury)
12 - The Show Must Go On (Brian May)
Disc 2
1 - I Can’t Live With You (1997 Rocks Retake) (Brian May)
2 - Lost Opportunity (B-Side) (Queen)
3 - Ride The Wild Wind (Early Version with Guide Vocal) (Roger Taylor)
4 - I’m Going Slightly Mad (Mad Mix) (Freddie Mercury)
5 - Headlong (Embryo with Guide Vocal) (Brian May)
(Innuendo (2011 Remaster) (Deluxe Edition))
INNUENDO
A faixa-título de Innuendo, com mais de cinco minutos de duração, foi o single mais longo dos Queen desde Bohemian Rhapsody, e o primeiro do álbum a ser editado. Um tema épico, que cobre diversos estilos musicais – uma marca intrínseca dos Queen – e conta com a guitarra espanhola de Steve Howe, dos Yes, lançado como single a 14 de Janeiro de 1991. Com o tema Bijou no labo B, o single entrou para o 1.º lugar da tabela do Reino Unido e deu aos Queen a sua terceira liderança nos tops britânicos, a primeira desde a colaboração com David Bowie em Under Pressure uma década antes. Foi também número 1 na África do Sul e em Portugal. Surpreendentemente, nunca foi editado nos Estados Unidos, a não ser como CD promocional. A Hollywood Records, a nova editora dos Queen em território norte-americano, com quem o grupo tinha assinado recentemente (em Fevereiro de 1990), preferiu lançar Headlong como primeiro single.
O vídeo de Innuendo foi realizado por Jery Hibbert e Rudi Dolezal, e constitui uma proeza em termos de animação. Os modelos de plasticina da banda, que levaram quatro semanas a serem criados, são um dos destaques inovadores da obra. Com mais de seis minutos de duração, este videoclipe é certamente o mais espectacular, caro e memorável dos Queen. Venceu diversos prémios de prestígio, incluindo o conceituado Gold Camera no American Film and Video Festival de Chicago, em 1991.
I’M GOING SLIGHTLY MAD
Seguiu-se o single I'm Going Slightly Mad. Acompanhado de um tema pesado e radicalmente contrastante, The Hitman, o single contou também com um vídeo inesquecível, desta vez exibido alguns aspectos bizarros e maravilhosas da letra irónica escrita por Freddie: um homem com um fato de gorila e uma banana, um Roger de triciclo, mil narcisos amarelos, pinguins vivos, um parafuso gigante, bem como Roger a cortar a parte de baixo da gravata de John Deacon com uma tesoura. O vídeo de I'm Going Slightly Mad é adequadamente surreal e assaz divertido. A óbvia deterioração física de Freddie está habilmente disfarçada sob uma densa maquilhagem e adereços. Por várias razões, o vídeo tornou-se um daqueles por que Freddie será para sempre recordado. I'm Going Slightly Mad (lançado a 4 de Março) alcançou o 22.º lugar no Reino Unido, com um tema de Brian que não faz parte do álbum, Lost Opportunity – com Brian como vocalista principal – incluído no CD e nos singles de 12”.
HEADLONG
Headlong – uma das duas canções originalmente pensadas para o álbum a solo que Brian lançou na altura, e que acabou por ser incluída pelos Queen em Innuendo (a outra foi I Can’t Live With You) – tornou-se o terceiro single retirado do álbum. Lançado a 13 de Maio, e acompanhado por All Gods People, de Freddie e Mike Moran, o tema alcançou o 14.º lugar no Reino Unido, mas não obteve tanto sucesso nos Estados Unidos, onde saiu com Under Pressure. O lançamento do CD e do vinil de 12” contou com uma gravação clássica dos Queen/Roy Thomas Baker de 1973, há muito esquecida: a desconcertante Mad The Swine, da autoria de Freddie e destinada ao primeiro álbum da banda, mas que foi deixada de fora aparentemente por divergências de opinião entre o grupo e o produtor. Foi uma escolha curiosa para, de repente, ser repescada dos arquivos, que foi muito bem recebida pelos fãs. O vídeo de Headlong foi gravado em Abril de 1991 nos estúdios Metropolis, em Londres, onde a banda acabara de concluir o álbum.
THESE ARE THE DAYS OF OURS LIVES
Nos Estados Unidos, a Hollywood Records decidiu lançar o introspectivo The Are The Days Of Our Lives. Contendo uma das interpretações de Freddie mais comoventes de sempre, acompanhada de palavras igualmente emotivas, e música foi apresentada com Bijou e lançada a 5 de Setembro de 1991, o dia do 45.º aniversário de Freddie.
Após a sua morte, em Novembro, e em grande parte devido aos pedidos do público, a 9 de Dezembro de 1991, a EMI reeditou Bohemian Rhapsody, com The Are The Days Of Our Lives como segundo tema (um duplo lado A), num tributo ao grande Freddie Mercury. Acompanhado pelo derradeiro vídeo de Freddie, onde este surge como uma sombra do que fora antes e que muitos fãs não são capazes ver, a lançamento arrasou o topo da tabela do Reino Unido. O single foi o mais vendido no Natal de 1991. Nos Estados Unidos, Bohemian Rhapsody, com The Show Must Go On no lado B, foi lançado em Fevereiro de 1992 e subiu ao 2.º lugar, o maior sucesso dos Queen naquele país desde 1980. Todos os lucros da reedição de Bohemian Rhapsody foram doados à instituição britânica The Terrence Higgins Trust e à norte-americana Magic Johnson Foundation.
THE SHOW MUST GO ON
O penúltimo single de Innuendo, e último a ser produzido ainda em vida de Freddie, foi lançado a 14 de Outubro com The Show Must Go On. A escolha do labo B constituiu um mistério na altura, gerando um enorme debate entre os fãs. Keep Yourself Alive, do álbum de estreia em 1973, foi o primeiro single dos Queen e, por isso, acredita-se que a junção do tema com The Show Must Go On poderá ter acontecido por a banda saber que aquele seria o último single com Freddie. Embora inteiramente plausível, esta versão nunca foi confirmada. Apesar da especulação, The Show Must Go On acabou mesmo por ser o último single da era Freddie e incluiu de facto, o primeiro single de sempre no lado B. Seja qual for a verdade tendo ou não havido intenção, tratou-se de uma combinação adequada de músicas, com letras igualmente apropriadas, que alcançou o 16.º lugar nas tabelas do Reino Unido. Após a morte de Freddie, no final de Novembro, a canção voltou a entrar nos tops, tendo-se mantido mais tempo entre os primeiros 75 lugares do que no momento em que foi lançada.