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Sua Majestade Freddie Mercury


Por do 70º aniversário de Freddie Mercury, Peter Freestone concedeu uma entrevista publicada no A Queen Of Magic, onde abordou diversos assuntos relacionados com os Queen e em particular com Freddie Mercury. Consideramos este um relato de grande importância para a toda a nossa comunidade, pelo que passamos a traduzir grande parte da entrevista. Peter Richard Leslie Freestone, foi o melhor amigo de Freddie Mercury e também o seu assistente pessoal até à sua morte. Quando o vocalista dos lendários Queen, Freddie Mercury, faleceu em Novembro de 1991 - devido a complicações relacionadas com o vírus HIV, Peter pensou que o seu trabalho com Freddie tinha terminado nesse momento, no entanto enganou-se. Passaram já quase vinte seis anos desde a morte de uma das maiores lendas do rock e Peter Freestone - como é conhecido - sente que não conseguiu desprender-se do seu trabalho com Freddie, segundo disse numa entrevista, no evento "Breakthru", a convenção oficial e anual dos Queen na América do Norte. No ano passado (2016), realizou-se de 22 a 24 de Julho em Atlanta, Georgia. Freestone confessa, que a princípio, quando o cantor de Zanzibar (ilha da Tanzânia) morreu, era lhe difícil compreender que os fãs dos Queen necessitassem de falar com ele, devido à proximidade que ele tinha com o artista. Levou algum tempo a perceber que era "uma terapia necessária", não só para os fãs de Mercury, mas também para ele. Peter Freestone nasceu em Londres, no entanto começou a ir à escola na India e terminou-a no Reino Unido, tal e qual fez Freddie. "Essa foi a minha primeira semelhança com ele", destacou Peter, que actualmente se dedica a palestras sobre a prevenção do HIV nas escolas da Republica Checa, onde vive desde 2001. Peter, conheceu Freddie em 1979 enquanto trabalhava na Royal Opera House em Londres, no departamento de vestuário. É fácil perceber que Peter já contou a sua história com Freddie inúmeras vezes, pois os seus relatos saem de forma automática. No entanto, não é por isso que lhes faltem emoção, admiração ou nostalgia. "A certa altura, Freddie foi convidado pela Royal Opera House para que fizesse parte de uma gala de beneficência. Nessa noite, cantou a Crazy Little Thing Called Loved e Bohemian Rhapsody. Na festa que houve depois da gala, dei-lhe os parabéns pela sua voz maravilhosa. Ele agradeceu-me e perguntou-me o que fazia exactamente na Royal Opera House (porque me tinha visto algumas vezes a trabalhar durante os ensaios). Eu disse-lhe o que fazia e dez dias depois, alguém dos escritórios dos Queen ligou-me e perguntou-me se estaria interessado em ser o responsável pelo vestuário dos Queen durante uma tour de seis semanas. Assim tudo começou” , contou Freestone, que até à data escreveu três livros sobre a estrela maior do Rock: “Freddie Mercury: An Intimate Memoir By The Man Who Knew Him Best”; “Freddie Mercury: The Afterlife” e “Freddie Mercury’s Royal Recipes”. O enorme desejo que o mundo conhecesse como era verdadeiramente a estrela da música e o que aconteceu depois da sua morte, foi o que inspirou a escrever os livros. Antes de Peter entrar na vida de Freddie Mercury, o músico nunca tinha tido um assistente pessoal. Era algo de novo, tanto para Freddie como para Peter. Peter passou de ser o responsável pelo vestuário dos Queen durante 18 meses, para ser a mão direita de Freedie, até à sua morte em Garden Lodge (a mansão que o astro tinha em Kensington, no oeste de Londres). Depois do falecimento do vocalista, Peter trabalhou no departamento de neurologia no Guy's Hospital em Londres e comprou um pequeno hotel em Devon, Inglaterra. "Quando recebi a oferta para trabalhar com os Queen, nunca imaginei que seria associado a um homem a quem considero um dos melhores compositores dos finais do século XX", disse Peter que tem actualmente 61 anos. Em que consistia o seu trabalho como assistente pessoal de Freddie Mercury? Peter - Em doze anos junto a Freddie, nunca assinei um contrato. Eu não tinha uma descrição de trabalho, porque ele nunca tinha tido um assistente pessoal, por isso, tratava-se de um trabalho que evoluía de dia para dia. Basicamente, eu encarregava-me de lhe tornar a vida o mais fácil possível. Atender as suas chamadas, abrir a porta, coordenar as suas viagens, fazer-lhe as compras, cozinhar... Fui seu secretário, guarda-costas e até enfermeiro em momentos de agonia... Eu fazia todas essas coisas, de maneira a que ele se pudesse concentrar na música. O meu trabalho era tornar a vida de Freddie Mercury mais fácil. A primeira vez que viu Freddie, foi na Royal Opera House em Londres? Peter - Não. Já o tinha visto seis anos antes, no Rainbow Room em Londres. Eu estava com a minha namorada a tomar chá e Freddie entrou com a sua namorada na altura, Mary Autin. Ele não passou despercebido com o seu estilo. Freddie não presicava de fazer grandes entradas, para chamar à atenção. Ele não era alto, por isso, tratava-se mais do seu carisma e da sua personalidade. Como foi a sua experiência com os fãs dele, logo depois da sua morte? Peter - Quando Freddie morreu, "escondi-me" durante alguns anos. Não queria estar relacionado com nada que tivesse que ver com ele. Normalmente, quando as pessoas terminam um trabalho, fecham esse capítulo e começam um novo. Eu não pude fazer isso. Não me entendam mal, não me sinto infeliz por isso. Levei muito tempo a perceber, porque é que os fãs e seguidores de Freddie, queriam falar comigo. E como se sente agora? Peter - Eu sou eu. Freddie sempre foi e será a estrela. É por isso que às vezes ainda me custa estar na praça pública. Quando Freddie era vivo, eu sempre estive nos bastidores. Agora, 25 anos depois, essa imagem de Freddie continua viva e eu continuo nos bastidores. Às vezes, há pessoas que me estendem a mão, só porque eu lhe cheguei a tocar. Mas eu já lavei a mão muitas vezes depois disso, percebes? Levei muito tempo a perceber, porque é que as pessoas precisavam disso. Como descreve o espírito dos fãs de Queen? Peter - Somos uma família. Os fãs de Queen de todo o mundo, fazem-te sentir parte de uma família. Talvez pela sua grande admiração e respeito pela banda. Em qualquer parte do mundo, posso sentir o seu amor e entrega. Acha que esse fervor todo, se deve mais à figura de Freddie Mercury? Peter - Bem, eu acho que é pela banda completa. Para alguns, os Queen são John Deacon, para outros Brian May e para outros Roger Taylor. Freddie odiava que dissessem que os Queen eram a sua banda, porque não era. Freddie era só 25% da banda, nem mais nem menos. Freddie disse que, quando morresse, queria ser recordado como um grande músico. Como descreveria a contribuição e o legado na música de Freddie? Peter - Creio que Freddie cumpriu o seu desejo. Ele tinha duas pessoas num pedestral: Elvis Presley e John Lennon. Eram as duas pessoas que ele acreditava que significavam algo para a música e ele nunca sonhou em ser colocado ao mesmo nível que esses dois. Ele sabia que era bom, mas não era o tipo de pessoa que passava a vida a dizer "Eu sou o meio" e jamais penso em chegar ao nível desses dois.

Ou seja, nunca fez muito alarido do seu talento... Peter - Na altura da sua morte, Freddie tinha consciência que tinha escrito música maravilhosa. Também sabia que tinha escrito música, talvez, não tão maravilhosa. Mas sempre fez o que pensava que era melhor para si. Os Queen nunca seguiram uma moda. Simplesmente criavam música como a sentiam. Todos os álbuns da banda são diferentes e até as músicas menos conhecidas, são excelentes canções. Este ano (2016), Freddie faria 70 anos, a 5 de Setembro. Que eventos estão planeados a nível mundial? O Twitter inclusive, criou um logotipo de Freddie com esse propósito. Peter - É verdade. A festa oficial da celebração do aniversário de Freddie será no Casino de Montreux, na Suíça. Esse evento é patrocinado pela The Mercury Phoenix Trust. É uma organização que se fundou em sua honra para angariar fundos para os pacientes com vírus HIV e para levar uma mensagem de alerta contra essa doença que causou a sua morte. Este ano (2016) também se celebram os 25 anos da sua morte, a 24 de Novembro. Será realizado algo especial em alguma parte do mundo? Peter - O 24 de Novembro deve ser uma data de celebração da sua vida e do seu legado, não uma data para chorar porque ele já não está entre nós. No 24 de Novembro, eu vou estar na Holanda, porque um clube de fãs holandês realiza sempre algo em sua honra. É uma celebração da sua vida, do que ele deu aos outros através da sua música, porque Freddie não levou nada consigo quando morreu. Apenas cortou laços e deixou tudo o que tinha aos outros. Falou de Montreux... Porque quis Freddie viver os últimos anos da sua vida lá, antes de entrar na etapa terminal da sua doença? Peter - A primeira vez que fui à Suíça com Freddie, foi em 1980 e ele odiou porque se aborrecia muito lá. Não havia absolutamente nada que fazer. Nos últimos anos da sua vida (quando já estava bem doente), foi precisamente por essa razão que se apaixonou por aquele lugar. Porque era um ambiente pacífico, as pessoas deixavam-no tranquilo e não era assediado pela imprensa. É por essa razão que a estátua, desenhada pela escultora checa Irena Sedlecká, está em Montreux? Peter - Em parte sim, mas na realidade, Inglaterra não estava preparada para fazer algo assim por Freddie. Que fazia Freddie antes de subir a palco? Tinha alguma rotina particular? Peter - Freddie não precisava de nada especial. A única coisa que pedia era paz e silencio. Não permitia que ninguém entrasse nos camarins, quando faltasse meia-hora para começar um concerto. E só pedia a sua limonada quente com mel. Como era o relacionamento de Freddie com os outros membros de Queen? Peter - Como em tudo na via, as relações pessoais mudam à medida que o tempo passa. Antes de começar a trabalhar com Freddie, ele era muito protector de John Deacon, porque não queria que os excessos da indústria o afetassem. Mas quando John se casou com Verónica, isso mudou, porque John já tinha o seu círculo seguro. Freddie também era muito próximo de Roger, porque passavam muito tempo juntos. No entanto, era com Brian com quem criava mais música no estúdio. Na sua opinião, o que distingue Freddie e os Queen, dos outros vocalistas e bandas que se destacaram nas décadas de 70 e 80? Peter - Essa é uma pergunta difícil. Talvez porque se mantinham, constantemente a escrever boa música. A música dos Queen sempre disse algo a todo o mundo, mesmo nos dias de hoje. É música que é relevante para o público de agora, da mesma forma que era quando foi escrita. Basta pensar na quantidade de vezes que uma música como "We Are The Champions" (escrita por Freddie), é tocada em diferentes eventos desportivos a nível mundial A canção tem mais de 40 anos e contínua actual. Freddie chamava à atenção nos concertos dos Queen, devido aos vários copos de cerveja que tinha em cima do piano. Quantas cervejas bebia durante um concerto? Peter – (Risos) Não muitas. Podiam parecer muitas, mas não eram. Os copos nunca estavam cheios. Freddie nunca bebia álcool em excesso nem usava drogas antes de subir a palco. Creio que por duas vezes, bebeu mais do que devia e o público apercebeu-se logo disso. Você era o chefe de cozinha em Garden Lodge. Que preferia Freddie na hora de comer? Peter – Quando estava bem de saúde, antes de adoecer, era fascinado por comida picante, particularmente um prato típico da India, que tem frango e vegetais temperados com especiarias. Quando adoeceu, nos últimos 2/3 anos de vida, o seu paladar foi afectado e não tolerava sabores fortes. Freddie sempre foi muito cuidadoso com a sua vida pessoal. Acha que ele estaria de acordo com todas as reportagens e livros que se publicaram depois da sua morte? Peter – Ele sempre disse que, se fossem escrever algo sobre ele, se as pessoas queriam saber como ele era na realidade, tinham que incluir o bom e o mau da sua vida. Enquanto esteve vivo, nunca usou a imprensa para seu benefício. A imprensa respeitava-o, e deixava-o tranquilo, mas isso mudou nos últimos anos da sua vida, quando adoeceu. Nessa altura, começaram a segui-lo. Quando estava vivo, Freddie via-se como um músico que criava música e no que lhe dizia respeito, a sua vida sexual nada tinha que ver com a criação de música.

Quais era os seus passatempos preferidos? Peter – Ter sexo, ir às compras e quando via televisão, gostava de ver um programa que se chamava Countdown. Também gostava de jogar Scrabble. Que filmes gostava de ver? Peter – Gostava especialmente de três: “Hot”, “Imitation of Life” e “The Women”. Embora “Imitation of Life” não fosse uma comédia, ele adorava comédias. Adorava rir-se. Durante os intervalos de entrevistas, ele estava sempre a rir-se. Como era Freddie Mercury o homem, não o artista, quando não tinha o microfone à frente? Peter – Tanto poderia estar a rir como podia estar várias horas calado, pensativo, no jardim em Garden Lodge. Era tímido fora dos palcos. Não entrava num sitio cheio de gente que não o conhecia, a não ser que estivesse acompanhado dos seus amigos mais próximos. Quando assim era, tornava-se na alma da festa. Freddie tinha uma ligação especial com o público. Era carismático, dominava os palcos e o público. É difícil acreditar que era tímido... Peter – No palco, Freddie tornava-se num actor. Ele tinha essa habilidade – não importa a quantidade de pessoas que estivessem no público – de fazer sentir-se especial a cada pessoa que lá estava, que estava a cantar só para ela. Ele sentia que era esse o seu trabalho, de manter o público cativado, porque o resto da banda, por muito bons que fossem, estavam dependentes do que tocassem com o seu instrumento. O Peter faz referência a Freddie como o seu melhor amigo. Como era ele como amigo? Peter – Era o amigo mais bondoso, generoso e leal que qualquer pessoa podia desejar ter. Freddie adorava gatos, tanto que na altura da sua morte, tinha sete. Inclusive compôs um tema sobre a sua preferida - Delilah. Porque achava os gatos tão fascinantes? Peter – Porque os gatos são independentes. Os cães dependem muito mais dos seus donos. É verdade que Delilah estava com ele, na altura da sua morte? Peter - Ela e os restantes gatos sabiam, pressentiam e nós podíamos reparar no seu comportamento. Nos dias em que Freddie agonizava, nenhum dos gatos queria entrar no quarto dele. Ficavam à porta. Os animais não gostam de lidar com a morte. Porque era Delilah a favorita de Freddie? Peter – Ai, porque era uma safada. Ela só fazia mesmo o que queria e ele fascinava-se com isso. Vamos colocar as coisas nestes termos: Garden Lodge era a casa de Delilah e não de Freddie Mercury. Ou seja, a gata era a que reinava e não Freddie? Peter – Sim (risos). Além das suas conquistas artísticas, a orientação sexual de Freddie sempre foi um tema que chamou muito à atenção da imprensa europeia. Ele considerava-se gay ou bissexual? Porque segundo se sabe, relacionou-se com pessoas de ambos os sexos. Peter – Bem, também teve relacionamentos com os seus gatos, mas... Que tem isso que ver com a sua música?... (faz uma pausa e respira fundo). Freddie teve intimidade com quem foi a sua namorada, Mary Austin, e com homens. Mas basicamente, depois de 1975 ele só dormiu com homens. Por duas ocasiões, durante umas entrevistas que concedeu na década de 70, perguntaram-lhe se era gay e ele respondeu: “Sim, sou tão gay com um narciso, meu querido”. Noutra entrevista disse: “Sim. Já dormi com homens, com mulheres e com os meus gatos. Mas, quem tem isso que ver com a minha música?” ...Porque quando ele concedia uma entrevista, era para falar da sua música e não da sua vida privada. O último amante de Freddie, foi o estilista irlandês Jim Hutton. Ele descreve Freddie no seu livro, “Mercury e eu” como um homem ciumento. Era mesmo ciumento? Peter – Sim, mas quem é que não tem ciumes do seu/sua parceiro/parceira? Se Freddie estivesse vivo nos dias de hoje, acha que se sentiria completamente livre como um homem gay? Peter – Freddie iria detestar que o fechassem “numa caixa”, que o fechassem na “caixa” dos gays. As pessoas são pessoas. Cada pessoa é um individuo. Então, porque rotular uma pessoa por causa da sua orientação sexual? É isso o mais importante? Quem vive actualmente naquela que foi a residência de Freddie em Londres, Garden Lodge? Peter – A sua ex-namorada e beneficiária da sua herança, Mary Austin, segundo sei. Não ouvi nada em contrário. Alguma vez foi ponderado transformar Garden Lodge numa espécie de museu, que os fãs dos Queen pudessem visitar, como é o caso de Graceland de Elvis Presley, no Tennessee? Peter – Não, porque ele deixou estabelecido no seu testamento, que quando se cumprirem 50 anos da sua morte, Garden Lodge e todos os seus imóveis deverão ser postos à venda e que o lucro seja repartido por duas entidades de caridade: Uma de pacientes com cancro e outra de crianças. A nível da música, Freddie e os Queen tiveram uma atitude arriscada, quando decidiram promover na rádio uma música tão grande e complexa como é “Bohemian Rhapsody”, que tem elementos Pop, Ópera e Rock. No entanto, funcionou. Concorda que essa música é o hino dos Queen e o tema que imortalizou Freddie ao longo dos anos? Peter – Sim, claro. É a música com a qual a geração adulta que segue os Queen mais se identifica, mas não necessariamente a música com a qual o púbico mais jovem se identifica. Mas sem dúvida, que quando falamos de Queen, pensamos em Bohemian Rhapsody. Além disso, a música esteve três vezes no nº1 dos tops, por três ocasiões diferentes. Em 1975 quando saiu, em 1991 quando morreu Freddie, e em 1992 quando saiu o filme “Wayne’s World”. Penso que “Another One Bites The Dust, foi outra música muito importante no catálogo dos Queen. Foi a música que os colocou como nº1 nos Estados Unidos. Há um verso em “Bohemian Rhapsody” em que Freddie parecia que adivinhava que ia morrer novo. Que pensa o Peter? Peter – Eu não o diria dessa forma. Sim, posso assegurar que Freddie não queria ser um velho, mas também não antecipava morrer tão cedo. De qualquer maneira, quando soube que morreria tão cedo, isso não o destruiu, não o desanimou nem o deprimiu. Porque considera que “Another One Bites The Dust” foi o maior exito dos Queen nos Estados Unidos? Peter – Porque era o tipo de música mais na moda, naquela altura. No entanto, quando os Queen lançaram o vídeo "I Want To Break Free" - onde os membros da banda aparecem vestidos de mulher - a popularidade do grupo morreu na América. Porquê? Peter - Existem duas versões. O guitarrista, Brian May, mencionou numa entrevista que tal se devia ao representante da banda não estar a autorizar entrevistas, nesse momento. Por outro lado, temos que lembrar que a mentalidade na América não era tão liberal nessa altura. A sua prespectiva era muito mais conservadora. Os Queen sempre se distinguiram por oferecerem um espectáculo variado, com a sua mistura de Rock com elementos de Ópera, Ballet e um guarda-roupa extravagante, principalmente através da figura de Freddie. Acha que isto ajudou ao sucesso da banda nos anos 70 e 80? Peter - Freddie queria sempre oferecer ao público, um grande espectáculo. Ele não queria que fossem apenas quatro músicos num cenário. Ele queria sempre mais e melhores luzes, melhor som, guarda-roupa extravagante e chamativo. Procurava sempre fazer um espectáculo distinto. É por isso, que nunca o viram fazer o mesmo que na noite anterior. Recentemente, Brian May e o resto dos membros da banda, expressaram o seu repúdio pelo uso da "We Are The Champions" como tema principal, para a campanha presidencial republicana de Donal Trump, nos Estados Unidos. Pensa que Freddie também estaria de acordo, com esta posição da banda? Peter - Isso já tem que ver com política e Freddie jamais se relacionaria com algo que tivesse que ver com política, porque ele sentia que a política era para os indivíduos e não para as pessoas. Ele detestava, por exemplo, quando Bono persuadia os seus fãs a votar em quem ele votava. A maioria dos êxitos dos Queen, foram escritos por Freddie. Sabe se ele tinha algum favorito? Peter - Recordo-me que numa entrevista, Freddie disse que a maioria da mística dos Queen, tinha sido escrita por Brian May, mas que ele tinha escrito a maior parte dos êxitos. A sua música favorita era "Somebody To Love". Mas, quase nunca o mencionava, porque não queria que a imprensa dissesse que ele só gostava do que ele escrevia. De onde Freddie tirou a ideia de chamar "Queen" à banda? Peter - Ele estava à procura de um nome curto, que fosse fácil de recordar, mas ao mesmo tempo que fosse chamativo. Porque mudou ele o nome para Freddie Mercury? Peter - Porque ninguém prestaria atenção, se ele se chamasse Farrokh Bulsara. O nome de Freddie surge, porque os seus amigos na escola chamavam-no assim. Ele colocou o apelido de Mercury, porque na mitologia romana, Mercúrio era o mensageiro dos deuses. Quando Freddie decidiu fazer algo a solo, em Abril de 1985, com o lançamento do álbum "Mr. Bad Guy", estaria ele a preparar a sua saída dos Queen se corresse bem? Peter - Não. Coloquemos a questão desta forma. Freddie teve a oportunidade de fazer outro tipo de música, a que ele queria fazer, mas que sabia que não poderia fazê-la com os Queen. Foi por isso que o fez. A nível musical, Mercury nunca temeu arriscar e experimentar novas fusões, estilos e sons. Demostrou-o com Bohemian Rhapsdoy, e também quando gravou um disco com a diva da ópera - Montserrat Caballé. Ele adorava a sua capacidade vocal e as técnicas que ela usava. Admirava enormemente o controlo de voz que ela tinha, podendo chegar à nota mais alta, para depois baixar subtilmente. Ele adorava-a. Juntos, gravaram "Barcelona", que foi o tema oficial dos Jogos Olímpicos em 1992 e que está presente nesse mesmo álbum. Freddie tinha talento para o desenho. Estudou inclusivamente, a nível universitário em Londres. Foi ele que desenhou o logotipo dos Queen e chegou a criar peças de roupa. Alguma vez ponderou ele entrar mais nesse campo? Peter - Não. Ele vivia para a música. Várias publicações especializadas, destacaram Freddie como uma das vozes mais importantes da História do Rock. Concorda com isto? Peter - Diria que ele é uma das vozes que mais sobressai, porque existiram outras como Elvis Presley e tantos outros. Diria que Freddie está no Top 10. A participação dos Queen no evento "Live Aid" em 1985, no estádio de Wembley em Londres, foi considerada como a apresentação de Rock ao vivo mais memorável da história da televisão internacional. Os Queen tinham ideia que iriam "roubar" o espectáculo nesse dia? Peter - Eles não tinham como plano "roubar" o espectáculo. Simplesmente ensaiaram para a sua participação, como o teriam feito para um concerto de duas horas. Eles ensaiaram, por isso, foram os melhores nesse dia. Actualmente, os Queen continuam em tour com Adam Lambert como vocalista. Recentemente, o Peter escreveu nas redes sociais, que estava seguro que eles iriam arrasar, porque entendia que, no geral, estavam a apresentar um bom espectáculo. Porque disse isso? Peter - Porque só temos que nos fixar na quantidade de comentários que as pessoas fazem, dizendo que os Queen não são nada, se não estiver Freddie Mercury. Honestamente, Adam Lambert, o que está a fazer agora, é dar vida aos Queen. A mim pessoalmente, não me agrada o seu estilo, mas o que ele está a fazer é que a música dos Queen continue viva. A determinada altura, foi mencionado que o actor britânico Sacha Baron Cohen interpretaria Freddie num filme biográfico. Mas parece que isso não vai acontecer, devido a discórdias com Brian May e Roger Taylor. Sabe o que se passou? Quem irá fazer de Freddie na longa-metragem? Peter - Não sei, a mim não me incluem nessas conversas. Sei que Sacha Baron Cohen não o vai fazer. Se finalmente vão fazer o filme?...Quem sabe. Como foi o encontro entre Freddie e Michael Jackson, quando gravaram temas como "There Must Be More To Life Than This"? Peter - Foi uma boa experiência. Tratava-se de dois dos músicos mais talentosos da altura, que se juntaram para trabalhar. Gravaram juntos durante, aproximadamente, nove horas seguidas no estúdio. O que mais me recordo, quando fazíamos a viagem de regresso, Freddie mencionou que nunca tinha conhecido uma pessoa com tão mau gosto para a decoração. (risos) Muitos dizem que Freddie foi muito corajoso, quando decidiu aparecer no vídeo de These Are The Days Of Our Lives", em 1991, numa altura em que se notava que estava muito débil por causa do HIV. Pensa que essa foi uma boa decisão? Peter - No princípio, não, mas depois Freddie explicou-me o porquê de o fazer e eu percebi-o. No vídeo que os Queen filmaram antes de "These Are The Days Of Our Lives", os membros da banda foram apresentados como desenhos animados, e ele não queria que o mundo o recordasse como um cartoon. Além disse, participar nesse vídeo, iria dar-lhe uma oportunidade de dizer "adeus". Tinha Freddie medo da morte? Peter - Não, porque ele não entendia como se poderia temer algo que é inevitável, que vai acontecer irremediavelmente. Não concordava com isso. Que pensava Freddie que iria acontecer depois da sua morte? Peter - Ele nunca falou sobre isso. Onde e quando se pensa que Freddie contraiu o vírus do HIV?

Peter - Bem, a única forma de calcular é contar os anos para trás. O vírus pode estar no corpo humano, antes de se manifestar, durante uns 6 ou 7 anos. Por isso, entendemos que ele pode ter contraído a doença entre 1979 e 1980. Nesses anos, Freddie vivia em Nova Iorque e era muito promiscuo. Assim, calculamos que tenha sido durante algum momento em Nova Iorque. Porque é que Freddie não praticava sexo seguro, se sabia que o HIV era mortal na década de 80? Peter - Bem, ele começou a praticar sexo seguro em 1987, mas mesmo assim, se tivesse começado a fazê-lo em 1983 - Escolhendo mais o menos o meio dos anos 80 - ainda existiria a possibilidade de que ele tivesse contraído o vírus uns anos antes. Como todo o mundo, Freddie era humano, e achava que contrair a doença, só poderia acontecer aos outros e não a ele. Porque pediu Freddie a Mary Austin, que mantivesse em segredo o lugar onde estão as suas cinzas? Peter - Porque ele viu o que aconteceu com Charlie Chaplin, que foi sepultado na sua vila e o seu cadáver foi roubado por uns ladrões, que pediram resgate pelo mesmo. Você tem alguma ideia onde poderão estar guardadas, enterradas ou espalhadas? Peter - Não, não de todo. Como e quando Freddie lhe revelou que tinha HIV? Peter - Em 1987, durante a Primavera, na cozinha em Garden lodge. Segundo sabemos, Freddie manteve em segredo a dor física que sentia no fim da sua vida, para que os seus pais, Jer e Bomi Bulsara, e a sua irmã Kashmira, não sofressem também... Peter - Sim, é verdade. Mas nós dávamos conta da dor que sentia. Dávamos-lhe imensos analgésicos. Quando foi que Freddie decidiu emitir um comunicado a anunciar que tinha HIV? Peter - O comunicado foi elaborado 48 horas antes da sua morte, mas foi imprimido um dia antes de ele falecer, às oito da noite. Freddie pediu algo especifico para o seu funeral? Peter - Ele nunca falou sobre o que queria depois de morrer, porque não lhe interessava, não iria cá estar, porque os funerais são para quem cá fica. Decidimos colocar a música "You've Got a Friend" de Aretha Franklin para a entrada do carro funerário na capela (em Londres), e eu decidi colocar a tocar a sua música preferida "D'amor sull'ali rosee" da Ópera "Il Trovatore" - na voz de Montserrat Caballé - para o momento em que levassem o caixão. Foi um funeral familiar, para uma pessoa que pertencia ao mundo. O mundo teve-o durante 25 anos. Achei que o correcto, era que a sua família o tivesse no fim, porque não é suposto os pais enterrarem os filhos, como foi o caso. Que aconteceu depois da cerimónia na capela?

Peter - Freddie foi cremado. Ambas as cerimónias, a que aconteceu às 10h da manhã do dia 27 de Novembro de 1991 na capela em Londres e a que se realizou no crematório do cemitério de Kensal Green, foram realizadas de acordo com a religião dos seus pais. É certo que Freddie sempre viveu com bastante intensidade? Peter - Completamente. Naquilo que dizia respeito a Freddie, a vida era demasiado curta para se desperdiçar um minuto que fosse da mesma. Ele não o dizia porque estava a morrer, ele dizia-o porque era a sua filosofia de vida. Freddie tinha algum arrependimento, antes de morrer? Peter - Nenhum. Isso foi uma das coisas que aprendi com ele, que na vida, não nos devemos arrepender do que fizemos, porque isso seria perder tempo. Ou seja, gastar energia com algo que não podes inverter ou mudar, porque já passou. Como passou Freddie os últimos anos da sua vida? Peter - Descansava muito, de maneira a recuperar energia para passar tempo com as pessoas que o iam visitar a Garden Lodge. Mas ele nunca falou disso a ninguém, porque não queria que tivessem pena dele. Muitos dos tratamentos eficazes para tratar o HIV, surgiram depois da morte de Freddie. Acha que, se a sua vida se tivesse prolongado mais um pouco, ainda estaria connosco? Peter - Não, porque provavelmente teria durado mais uns 6 meses e ele detestaria viver nessas condições. Precisar de uma bengala para andar, sem energia e a depender de medicamentos o tempo todo. Sente a falta de Freddie? Peter - Claro. Que lhe diria agora?

Peter - As últimas palavras que ele me disse a mim: "Obrigado por tudo". Como gostaria que o mundo recordasse Freddie Mercury?


Peter - Basicamente, como estão a fazê-lo. Apreciando a sua música. Era isso que ele queria.



Fonte original: A Queen Of Magic


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