Passamos a publicar o mais recente texto no nosso colaborador John Aguiar, que hoje nos vem falar na mítica festa do álbum Jazz...
Para esta semana, fujo um bocado da norma. Ao invés da habitual opinião sobre um determinado tema do Universo Queen, fiz umas investigações e leituras sobre alguns factos da história da banda. Se calhar, vocês saberão de algumas coisas, outras serão completa novidade ou então sabiam do geral, mas não de alguns detalhes. Bem-vindos ao fascinante Universo Queen, no Fairmont Hotel.
Em 1978, os Queen estavam no topo do Mundo. Os sucessos eram constantes e as vendas dos discos corriam sobre rodas. Para celebrar tudo isto, Mercury e seus pares decidiram comemorar o lançamento de Jazz em Nova Orleães no Hotel Fairmont com um verdadeiro “festão”. O novo álbum continha hits como Bicycle Race, Fat Bottomed Girls ou Don’t Stop Me Now (o hino ao hedonismo de Freddie), numa mescla de estilos tão típica nos Queen e tão diferente do disco anterior e a expectativa alta. Queen eram realeza a sério e tinham de o mostrar ao Mundo.
Bob Gibson, o “RP” dos Queen responsável pela organização, já sabia que a cidade escolhida pela banda era Nova Orleães, pelo espírito do disco, só lhe faltava o local e por isso fez horas extra para tentar perceber qual o melhor sítio. Depois de percorrer a cidade várias vezes o Fairmont foi o escolhido pela localização (perto do Bairro Francês) e pelo enorme salão de baile. E dinheiro, na preparação da festa, não era problema! E depois do 3º concerto a mostrar as novas músicas, a 10 de Novembro, o espectáculo de luzes e as roupas de Freddie (o famoso fato de arlequim) iria então marcar o tom do resto da festa e do resto da noite.
Jim Beach, sempre cioso do seu papel de responsabilidade no meio de tanta loucura, tinha disponibilizado já 200 00 dólares (já de si um balúrdio) para a festa, mas Freddie, ao seu estilo, disse logo ao resto da entourage “Let’s live a little, darlings”. A partir daí, Bob Gibson nem quis saber o orçamento, era para ser um sucesso e não se ia poupar. A decoração? Inspirada na cultura francesa (preponderante em Nova Orleães), o Halloween e… árvores mortas para encher a sala até ao altíssimo tecto, de onde se penduravam jaulas com dançarinos. Enquanto os convidados esperavam pelos Queen, uma banda de Dixieland em drag tocava música jazz. A compor, vídeos de Fat Bottomed Girls, single lançado duas/três semanas antes, espalhados pela sala… Nota-se o porquê da escolha. A entrada dos Queen foi depois assinalada em grande, com gente a tocar trombetas (nus), encantadores de serpentes e travestis…A famosa foto de Freddie a autografar o rabo de uma fã é desses momentos. O menu? Caviar, champanhe, ostras, lagosta e, quase certamente, cocaína. A comida estava arrumada em pirâmide e servida por empregados, alguns deles anões (segundo outros relatos, tratavam-se de empregados hermafroditas) que distribuíam droga em tabuleiros. Empregados estes que pediam para as pessoas não colocarem gorjetas nos tabuleiros, mas sim noutros… orifícios.
A lista de convidados era 300 a 500 pessoas, inclusive alguns freaks recolhidos, a pedido da banda, das ruas da cidade. Além destes, Freddie exigiu artistas de rua a actuar na festa, para “animar as coisas”, como um tipo que comia cabeças de galinhas vivas ou uma mulher a fumar por sítios estranhos…. Pela sala, contorcionistas, mágicos, zulus, strippers, entre outras… “curiosidades”. Por outro lado, no restante hotel, todos aproveitavam as vantagens dos quartos, da presença de muita gente disposta a divertir-se em grande e do ambiente de loucura… Como apontou Freddie (pelo que diz a lenda), “uns hotéis têm serviço de quarto, este tem serviço de lábios”. Às 3 da manhã, Freddie, Brian, John e Roger estavam a abandonar a festa. Mas a noite não estava a acabar. O vocalista rodeou-se dos mais belos convidados para explorar o Bairro Francês e Brian procurou uma mulher que havia conhecido anos antes. No Fairmont, o festim também não abrandou.
No dia seguinte, a lenda já crescia, com os jornais a apelidarem o evento de “Sábado à noite em Sodoma”. E Brian afirmou que a festa foi deliberadamente excessiva, para manter a imagem dos Queen de banda intérprete desses mesmos excessos. E pelo que li, isto foi daquelas festas típicas deles, plena de vida, de abundância, exagero e loucura! Na verdade, Freddie era o mentor destes festivais de deboche (com o beneplácito do resto da rapaziada), como se a testar os seus próprios limites na busca do prazer. Como um miúdo a testar a paciência dos demais. Dos adultos… Lá está, Don’t stop me now!
Mas este seria sempre o tom das festas de Freddie: freaks, fogo-de-artifício, álcool e substâncias menos lícitas. Na festa dos seus 35 anos, Mercury meteu amigos num Concorde para Nova Iorque, alugou uma penthouse e gastou, só em champanhe, umas 30 000 libras! Em 1987, outra festa lendária: 80 convidados e 350 garrafas de champanhe no idílico cenário de Ibiza! Aliás, esse evento é tão lendário que no hotel onde foi celebrado esse aniversário a mesma data ainda é comemorada com o mote da “festa que nunca acabou”. No caso não seria o show, mas sim The Party Must Go On…. E quem de nós não queria ter estado lá!