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O famoso duelo Queen vs Sex Pistols…


.. ou de como Freddie Mercury apelidou Sid Vicious de… Simon Ferocious!

Certamente que muitos de nós já ouviram falar deste famoso confronto. Este é assim o tema do mais recente texto do nosso colaborador John Aguiar, onde nos irá mergulhar um pouco mais fundo nesse célebre episódio da mitologia Queen.

Com os anos 70, o rock, via bandas como os Led Zeppelin, Pink Floyd ou The Who, tornou-se mais operático e mais complexo. Os Queen, claro, foram também inovadores, nas técnicas de gravação, nos vídeos ou no uso das vozes e instrumentos. Com o avançar da década, sobretudo em Inglaterra, começou a surgir uma espécie de reacção ao rendilhado da música tão vigente no mainstream. O punk, despido de arranjos e complexidade, feito de músicas curtas e directas, era cru, visceral, activo politicamente e uma força imparável junto do público jovem. O próprio Pete Townshend, guitarrista e principal letrista dos The Who, afirmou que temeu ser “varrido” do mapa perante o apelo primário do punk, música que falava directamente aos adolescentes. Um pouco à imagem do que a sua banda fez na década anterior, com a geração mod. E não será despiciendo afirmar que os Queen, em 76, sofreram um pouco também. Apesar de continuarem, com A Day At The Races, a cavalgar o grande sucesso obtido com Bohemian Rhapsody, o novo álbum não vendeu tão bem como o anterior.


Este é, mais ou menos, o background da época. De um lado, o punk. Do outro, o rock mais artístico, com os Queen à cabeça. O suposto duelo com os Sex Pistols começou antes do confronto directo. Em Dezembro de 76, os Queen estavam agendados para actuar num popular programa de TV. Seria uma aparição relevante, pois serviria para ajudar a cimentar o disco lançado naquele ano, bem como o consolidar da posição da banda em relação ao cenário da altura. Todavia, ironicamente, Freddie Mercury tinha uma consulta no… dentista à qual não podia mesmo faltar. E o que fez a produção do programa? Agendou uma banda que estava a começar a aparecer. O nome? Sex Pistols. Uma banda que era justamente o oposto dos Queen. Enquanto os nossos já eram famosos, os Pistols eram desconhecidos do grande público, mas já eram uma sensação no underground e não fizeram a coisa por menos com a oportunidade de aparecer na televisão. Entre insultos ao apresentador, uma entrevista bizarra e outras tropelias, a banda passou a ser a nova sensação no Reino Unido da noite para o dia. E a oposição completa ao status quo vigente na música, simbolizado, em parte, pelos Queen, segundo o credo punk.

https://youtu.be/Sfu-oko0Fl8

No início de 77, os Queen preparavam, em estúdio, um novo álbum. No mesmo espaço dos… Sex Pistols. May recorda que as bandas se cruzaram algumas vezes nos corredores, onde apesar de não ter nascido nenhuma amizade, as trocas de palavras eram sempre educadas. O guitarrista chegou inclusive a ter algumas conversas com Johnny Lydon, o vocalista, sempre sobre música. E foi durante este período que aconteceu então a famosa altercação. Durante uma sessão, um ébrio Sid Vicious entrou na sala de controlo de som e confrontou Freddie: “Já conseguiram levar o ballet às massas?”. Estas palavras referiam-se a uma entrevista dada por Mercury, que respondeu: “Oh sim, Simon Ferocious. Estamos a fazer o nosso melhor, darling”. Apelidar uma personagem como Vicious de Simon Ferocious e rematar com um darling é coisa mais Freddie Mercury que consigo imaginar. Aliás, é tão fácil imaginar a lata dele perante alguém que se julgava um bad boy… Mas o que Vicious não sabia era que Mercury era o verdadeiro Mr. Bad Guy! O pseudo-baixista dos Pistols ainda tentou fazer peito, mas Mercury, reza a lenda, agarrou-o pelo colarinho e jogou-o para fora da sala!

Após este evento, Lydon, que já tinha ido ver Queen ao vivo, insistiu em conhecer Freddie Mercury, algo que lhe não agradou muito, pois este estava ao piano no estúdio, com o “Pistol” a aparecer de surpresa. Já Roger Taylor, o rocker residente dos Queen, sem surpresa, estava atento ao fenómeno punk e era um fã da atitude de Lydon, mas apelidava Vicious de idiota. Por outro lado, Lydon ficou boquiaberto e apreciador dos redubs e takes que os Queen faziam em estúdio, enquanto os Pistols tinham de fazer tudo à primeira, afirmando ainda que chegou a ser convidado para fazer back vocals para News of the World, embora não existam provas que sustentem isto.


Tudo somado, conseguimos perceber que uma eventual guerra entre os Queen e os Sex Pistols nunca chegou bem a existir… Existiu uma altercação entre Mercury e Vicious e nada mais. A verdade é que Lydon (também conhecido como Rotten) asseverou que, sobre as questiúnculas com os Queen, no fim de contas o importante é a música e May, décadas mais depois e entrevistado por Steve Jones, guitarrista dos Pistols, afirmou que aqueles haviam feito um álbum que mudou o mundo.


News of the World é, alegadamente, um álbum de reacção ao punk. É, sem dúvida, um álbum um pouco mais “despido”, quando comparado aos anteriores. Creio que os Queen perceberam o que os rodeava e, sem perderem a entidade, quiseram afirmar algo. Quiseram trazer o público para o centro da acção, com We Will Rock You e, apesar dos ventos de mudança, mostraram quem são ainda os campeões do mundo, naqueles que são os principais destaques do disco.


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