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“Nós deixámos os nossos egos à porta do estúdio e trabalhámos como uma verdadeira banda, algo que não era sempre o caso com os Queen.” - Brian May

 

O décimo terceiro álbum dos Queen, The Miracle, foi gravado nos estúdios Olympic e Townhouse, em Londres, e nos Mountain Studios, em Montreux, na Suíça, entre Janeiro de 1988 e Janeiro de 1989. Foi produzido pelos Queen e por David Richard que, com o apoio de vários assistentes, também foi o engenheiro de som. Tendo passado bastante tempo com a banda em vários projectos a solo, David era agora um elemento permanente nas gravações dos Queen e assim permaneceria até às derradeiras canções gravadas por Freddie em 1991.

Antes da gravação do álbum The Miracle, os elementos da banda passaram o ano de 1987 separados, a trabalhar em projectos individuais. Brian produziu canções para vários artistas amigos, Freddie gravou ao álbum Barcelona com a estrela de ópera Montserrat Caballé, e Roger fundou uma nova banda (em part-time), chamada The Cross. Este ano revelar-se-ia muito benéfico para os Queen, pois todos regressaram com vigor e entusiasmo renovados e abundância de ideias. Trabalharam em muito mais faixas do que as necessárias para o novo álbum – um total de 30, como na época, afirmaram numa entrevista radiofónica dada à BBC, em Londres -, tendo concluído cerca de metade. Algumas acabariam por ser incluídas como lados B em singles, enquanto outras permanecem ainda por editar no arquivo da banda.

Inicialmente, o álbum deveria chamar-se The Invisible Man, mas o título foi alterado apenas algumas semanas antes do lançamento. Como era habitual, continha uma secção diversificada de músicas, tanto ao nível da letra como da melodia, conduzindo a banda por caminhos ainda mais improváveis e inesperados. Pela primeira vez num álbum dos Queen, a autoria de todas as canções foi atribuída colectivamente à banda, independentemente do seu verdadeiro autor. Um pormenor que poderia parecer sem importância foi, na verdade, muito significativo e libertador, até porque evitada todas as habituais discussões sobre a escolha das faixas para os singles. Como partilhavam os direitos de autor de todas as músicas, tinham o caminho livre para se concentrarem noutras questões.

Brian: «Dividir os créditos e os direitos de autor foi muito importante para todos nós. Foi um passo de gigante, porque nós éramos sempre muito competitivos em tudo, mas sobretudo na escrita, o que é bom. Acho que isso elevou a nossa fasquia, mas também podia ter sido muito destrutivo, porque tendemos a proteger a nossa canção a ponto de sermos negativos em relação a tudo o resto e, talvez, de não conseguirmos entender o ponto de vista dos outros. Tomámos uma boa decisão quando dissemos: “OK, independentemente de quem tiver a ideia original para estas canções, vamos dizer que o álbum foi escrito pelos Queen”.»

O impressionante trabalho artístico para a capa do álbum teve por base um conceito criado pela banda e representa a unidade do grupo; uma fusão perfeita de quatro pessoas que se tornam uma só. Afinal, tudo isso aconteceu durante o período em que os quatro membros trabalhavam juntos de forma tão próxima como nos primeiros tempos, enquanto lidavam secretamente com o agravamento da doença de Freddie. De facto, existia a possibilidade real de Freddie já não estar vivo para terminar o álbum. Os quatro homens uniram-se como nunca antes para se focarem no trabalho e não deixaram que nada os desviasse do seu rumo. Os quatro rostos juntam-se numa imagem surpreendente que capta todo este sentimento, continuando ainda hoje a ser uma das imagens dos Queen mais admiradas e universalmente reconhecidas.

O álbum abre de forma tipicamente grandiosa com a bem-intitulada Party, faixa que começou como uma jam session e depois se consolidou. Segue-se Khashoggi's Ship, uma canção sobre um bilionário infame, Adnan Khashoggi, e o seu barco. Depois, uma faixa que resulta da genuína colaboração de toda a banda e que acabaria por dar o nome ao álbum, The Miracle. Com uma letra meticulosamente trabalhada, a música é uma celebração dos êxitos da vida e de algumas das coisas maravilhosas que todos tendemos a tomar como garantidas. É a canção que mais tarde Brian descreveria como uma das melhores de Freddie: «Uma pequena obra-prima à sua maneira».

The Invisible Man, um tema inspirado num livro que Roger estava a ler na altura (mas não o romance de H. G. Wells) mostra a banda a explorar mais um novo rumo musical de ritmo acelerado e baseado no funk, com uma canção que viria a ser lançada como single. A introdução de Breakthru faz parte de uma ideia que Freddie tinha tido para outra música; em vez de a abandonar, considerou que esta pequena secção daria uma boa abertura para esta faixa.

Scandal, que fala em grande parte sobre a imprensa britânica de má reputação, deixa o ouvinte com poucas dúvidas sobre o desprezo dos quatro membros da banda pela imprensa que os perseguiu durante tantos anos. Brian recordaria mais tarde: «Foi muito doloroso e magoou-nos bastante – com estes paparazzi a invadirem as nossas vidas. Ganha-se dinheiro a destruir a vida das pessoas nos jornais e isso, provavelmente, nunca vai mudar em Inglaterra.»

A fechar o álbum surge e semi-autobiográfica Was It All Woth It. Baseada em ritmos pesados de percussão e guitarra e com uma parte intermédia com uma orquestração excessiva, esta faixa é o regresso dos Queen às suas raízes de rock bombástico, olhando para os seus êxitos e experiências do passado ao longo de duas décadas de digressões pelo mundo e a fazerem música juntos. Esta composição fascinante é uma verdadeira história condensada da banda, contada em quatro minutos no estilo inimitável dos Queen, e teria certamente sido um enorme sucesso em espectáculos ao vivo. Contundo, nenhuma das canções do álbum The Miracle estava destinada a ser ouvida em concerto. Was It All Woth It é também a canção que John Deacon citaria mais tarde como sendo a sua favorita do disco.

Embora tenham circulado rumores de que uma nova digressão seria anunciada após o lançamento do álbum, isto não aconteceu, por razões que em breve se tornariam óbvias. Em Maio de 1989, o grupo gravou uma entrevista especial para a BBC Radio 1 (com Mike Read), na qual Freddie explicou que era ele quem não queria partir em digressão. «Já o fizemos antes, e agora tinha chegado o momento dos Queen, quebrarem a incessante rotina ‘álbum, tournée, álbum tournée’.» Freddie prosseguiu, dizendo que, com a sua idade, sentia que já não devia andar a correr em cima de um palco em collants. Os outros membros da banda não concordaram, mas respeitaram o se desejo e encontraram outras formas de se ocuparem. Aquela foi a explicação oficial dos Queen.

Lançado a 22 de Maio de 1989, e duas semanas depois em território americano (6 de Junho), The Miracle foi o sexto álbum dos Queen a ocupar o topo da tabela de álbuns no Reino Unido, tendo alcançado Disco de Platina. Atingiu também o primeiro lugar em vários países da Europa e subiu ao 24.º lugar nos Estados Unidos, onde acabaria por ser Disco de Ouro.

Disc 1
1 - Party  (Freddie Mercury/Brian May/John Deacon)
2 - Khashoggi's Ship  (Freddie Mercury)
3 - The Miracle  (Freddie Mercury)
4 - I Want It All  (Brian May)
5 - The Invisible Man  (Roger Taylor)
6 - Breakthru  (Freddie Mercury/John Deacon)
7 - Rain Must Fall  (Freddie Mercury)
8 - Scandal  (Brian May)
9 - My Baby Does Me  (Freddie Mercury/John Deacon)
10 - Was It All Worth It  (Freddie Mercury)

​Disc 2
1 - I Want It All (Single Version)  (Brian May)
2 - The Invisible Man (Early Version with Guide Vocal, August 1988)  (Roger Taylor)
3 - Hang On In There (B-Side)  (Queen)
4 - Hijack My Heart (B-Side)  (Roger Taylor)
5 - Stealin’ (B-Side)  (Freddie Mercury)
6 - Chinese Torture (Instrumental)  (Brian May)
7 - The Invisible Man (12” Version)  (Roger Taylor)

(The Miracle (2011 Remaster) (Deluxe Edition))

SINGLES

A 2 de Maio de 1989, três semanas antes do lançamento do álbum The Miracle, surgiu o primeiro single dos Queen em cerca de dois anos e meio.  I Want It All (acompanhada Hang On In There, canção não incluída no álbum) deu à banda o seu primeiro lugar nas tabelas do Reino Unido desde A Kind Of Magic, em Março de 1986. Neste país, alcançou o terceiro lugar, e nos Estados Unidos, onde foi lançado uma semana mais tarde, alcançou o 50.º lugar na tabela Billboard e o 3.º da Rock Chart. A mesma dupla de músicas alcançou o top 10 na maioria dos países europeus. O vídeo respectivo foi realizado por David Mallet nos estúdios Elstree e apresenta a banda em palco no meio de 16 holofotes Super Trouper.

O segundo single, Breakthru, surgiu a 19 de Junho, contendo também uma faixa inédita, Stealin’, e alcançou o 7.º lugar nas tabelas do Reino Unido. A batida rítmica da canção, que sugere fortemente uma locomotiva a vapor a ribombar sobre os carris, foi a inspiração para o glorioso vídeo que a acompanhou. Filmado numa ferrovia privada em Cambridgeshire num dia quente de Junho, a banda aparece na parte de trás de uma carruagem aberta que se desloca pelo meio do campo a uma velocidade alarmante, puxada por um bela locomotiva a vapor antiga, The Miracle Express. Nesta produção não há truques de câmara, nem imagens geradas por computador, nem duplos em acção: era tudo real, perigoso e entusiasmante. O vídeo promocional de Breakthru é um espectáculo notável e um dos mais memoráreis dos Queen.

A 7 de Agosto, The Invisible Man foi lançada como terceiro single do álbum The Miracle, tendo alcançado o 12.º lugar nas tabelas do Reino Unido. No lado B, surgia mais uma vez uma canção inédita, Hijack My Heart. O vídeo que o acompanhou foi realizado por DoRo e filmado nos Pinewood Studios.

Em Outubro, o penúltimo single, Scandal (com a inédita My Life Has Been Saved) alcançou o 15.º lugar nas tabelas britânicas. O quinto e último single foi a faixa que dá nome ao álbum, The Miracle, acompanhada de uma versão ao vivo de Stone Cold Crazy (gravada no Rainbow, em Londres, no ano de 1974). Lançado a 27 de Novembro, subiu ao 21.º lugar nas tabelas do Reino Unido. O vídeo deste tema é um dos mais cativantes e memoráveis da banda, contando com quatro crianças (escolhidas após semanas de audições), disfarçadas de membros da banda e parecidas com eles. Gravado nos estúdios Elstree, os verdadeiros membros do grupo só aparecem na parte final do vídeo quando se juntam aos seus jovens sósias em palco. Depois de ver o desempenho dos «pequenos Queen», Freddie mais tarde diria, gracejando: «Será que poderiam fazer uma digressão inteira por nós?».

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