Em resposta a um convite que muito me honrou, vindo do Queen Portugal, cabe-me a responsabilidade e o prazer de ajudar a levar a tocha da divulgação da paixão por esta banda no nosso país. É, certamente, num oceano de fãs, um contributo pequeno, tamanha é a comunidade, não só cá, mas pelo mundo, mas é algo de sentido e é o cumprir de um desígnio há muito sonhado. Escrever sobre Queen… Assim, e em consonância com os responsáveis da Comunidade, tentarei fazer uma resenha, semanal, do que se passa pelo Mundo Queen, bem como dar alguns insights pessoais do que esta banda é para mim. Sem vos maçar mais, cá vai a primeira.
A semana fica, indelével e indubitavelmente, marcada pela vitória de Bohemian Rhapsody nos Globos de Ouro. Acompanhei o processo de dar vida à banda na 7ª arte de perto (na medida do possível), e ver, de início, os behind the scenes, depois os shots, os trailers e, por fim, o filme em si foi uma maratona esgotante e cheia de anseios, iniciada há uns 8 anos… E poucos pensavam ser realmente possível. Mas 2018 deu-nos enfim o biopic de Freddie Mercury!
Mais uma vez, a crítica não foi meiga com os Queen, um hábito de resto. Os discos da banda nunca tiveram também o amor dos analistas. Para os fãs, nada de novo, pois então. Desde os erros factuais (sim, de facto são muitos e olho clínico dos fãs não se abstrai) às típicas manobras já muitas vezes vistas noutros biopics, passando pela dança na cadeira do realizador, tudo um pouco serviu para a crítica atacar o filme. Inclusive, no site agregador de reviews Rotten Tomatoes (site que pega em todas as críticas na net e converte-as numa escala entre positivas e negativas), Bohemian Rhapsody esteve em “rotten” (numa escala de 0-100%, onde fresh, isto é positivo, é a partir dos 60) a maior parte do tempo. Admito, diariamente fazia refresh à página umas 6/7 vezes para ver se as coisas mudavam e passávamos a bitola no que toca a críticas positivas… Por fim, o score fixou-se em 62%. Uma vitória à tangente. Pelo menos para mim. Era importante este score para legitimar, de certa forma, o filme…
Admitidamente e olhando friamente, o filme em si não é uma obra-prima, dificilmente o seria. É muito difícil traduzir, sem fugir ainda mais à verdade, a carreira de alguém ligado a este meio. Mas a música foi tão bem transposta para o ecrã… Nos momentos onde esta toma o centro dos acontecimentos a magia acontece. O Live Aid então será uma sequência que marcará esta década no cinema. Parece difícil acreditar que foi das primeiras cenas a ser rodada tão bem oleados estão os novos rapazes. É difícil fugir à realidade, os Queen são a banda sonora da vida e é difícil, mesmo para não fãs, evitar cantarolar e bater o pé ao som produzido. E o filme deu-nos isso e mais ainda! E é difícil não sentir fascínio por aquele fenomenal dervixe de seu nome Freddie Mercury! Aquele pavonear… Dançar… Provocar… E entrega total a uma audiência devota! E Malek esteve insuperável nisso….
Por falar em Freddie Mercury, e voltando aos Globos de Ouro, Rami Malek. Seria injusto não dar uma palavra ao restante elenco, a dedicação e a química no ecrã são inegáveis (de tal ordem que Malek e Boynton são agora namorados). Mas o actor de ascendência egípcia compõe, no duelo interior, no swag, na entrega pela música e na paixão pelo seu papel de rock star, um Mercury de eleição e do qual não se consegue fugir. À altura do objecto retratado. E o júri reconheceu-o. E mesmo a crítica especializada que “bateu” no filme foi unânime praticamente: Malek É Mercury! O actor havia referido que ser o vocalista dos Queen no grande ecrã era uma espécie de “make or break it” para a carreira dele. Pelos prémios e nomeações que tem arrecadado (destaque natural para este), Malek tem tudo agora para se afirmar de vez. E há zunzuns de que é o principal candidato ao papel de vilão no próximo filme da saga 007. E o seu discurso de aceitação do Globo é só fantástico!
Obviamente, que a maior celeuma da noite veio até da eleição de Bohemian Rhapsody. Afinal, é preciso recuar 33 anos para encontrar um filme com um score Rotten Tomatoes mais baixo (África Minha, 60%). Em 149 vencedores, BhoRhap está 128º lugar no ranking Rotten Tomatoes ao nível do score final. E lá está, a crítica fustigou muito a obra. Admito que seja uma escolha polémica. Fico feliz, óbvio. Mas admito que seja polémico, sem problema. Mas a verdade é que no mesmo site, além do score da crítica especializada, há score da audiência. E esse cifra-se em… 90%! Mais uma vez, como aconteceu antes com a música, a vontade das pessoas sobrepôs-se à dos críticos. Pela enésima vez, a música dos Queen chegou a um número fantástico gente que a tomou como sua. Novamente encheu plateias! Fez rir, comoveu… Fez dançar. Fez… viver! A isto soma-se o facto de falarmos num filme que ultrapassa os 700M de dólares na bilheteira (num orçamento de 55). Tudo isto justifica por si só, pelo menos, estar na corrida a tudo o que é prémio. Há, acredito, uma outra vertente neste prémio. Sim, os Globos de Ouro são organizados pela imprensa estrangeira sediada nos EUA, mas são um prémio americano. E o país sentiu que precisa de expiar o que fez à banda, ao nunca lhes dar um Grammy. E já para não falar nas polémicas ligadas ao novo look de Mercury e a sua afinidade com a comunidade gay, concretizada, segundo a indústria, no clip I Want To Break Free. Assim, vejo isto também como um pedido de desculpas da indústria de entretenimento americana por nunca ter, devidamente, reconhecido tão gigante nome. Entretanto, os BAFTA, os mais importantes prémios cinematográficos britânicos, deram 7 nomeações a Bohemian Rhapsody esta 4ª-feira. Não está nomeado para Melhor Filme, mas Malek irá concorrer com Bradley Cooper, Christian Bale, Steve Coogan e Viggo Mortensen para melhor actor. Gente grande, portanto!
Foram dias de grande emoção, estes. Os Queen vivem novamente. Vimos e revimos as fotos de May, Taylor, Malek e restante cast & crew na passadeira vermelha. Nos antes e depois da cerimónia (como não amar as socas de May….). Os vídeos do discurso de Malek… A mim, continua-me a faltar Deacon… Mas foi um dia que nunca pensámos possível: triunfo absoluto na América e campeões do Mundo outra vez. E nos Óscares… Quem sabe… Se ganharmos (sim, nós), melhor. Se não vencermos nada, como diria Freddie, fuck it darlings!