Das palavras do nosso colaborador John Aguiar, fazemos as nossas e passamos a publicar o seu novo texto, que aborda o assunto da semana, ou seja as possibilidades de um Bohemian Rhapsody II, e de todos os prós e contras de existência de um novo filme... O tema que marca a agenda da semana do Universo Queen é, sem dúvida, a possibilidade de uma sequela para Bohemian Rhapsody. A ideia tinha sido já aventada por Brian May no passado mês de Novembro (num tom meio jocoso) e agora tem ganho mais tracção, muito por força dos prémios e dos milhões que o filme tem encaixado. É um tema sensível, onde cada um deve ter “liberdade plena de voto”, por isso o que se segue é uma opinião meramente pessoal do autor do presente texto.
Há uns dias, um nome bem conhecido dos fãs dos Queen largou uma espécie de bomba. Rudi Dolezal, realizador de vários videoclips para a banda e pessoa próxima de Freddie Mercury e do resto da rapaziada, afirmou que a ideia de uma sequela de BohRhap “está a ser fortemente discutida no seio da família Queen”. Ora fica no ar quem será a “família” e a amplitude da mesma. Deduzo que Taylor, May e Jim Beach (Deacon deve continuar de fora desta decisão) sejam o core desse parentesco e, consequentemente, da gestão do património da banda. Dolezal é uma pessoa que tem credibilidade, conhece a banda há anos e tem estado envolvido em várias iniciativas há anos. O documentário, já anunciado, The Show Must Go On tem o seu envolvimento e há também um interview project na calha, Freddie Mercury: In his own words, com a supervisão do realizador, que está ainda a trabalhar num livro, Freddie, My Friend. Falamos então de alguém credível e com peso na família Queen. Graham King, produtor do filme BohRhap, já avançou, entretanto, que não está em andamento nenhuma sequela para o filme, o que não desmente propriamente Dolezal.
Há muita acção sobre os Queen para cobrir a seguir ao Live Aid e 900M de dólares de receita são difíceis de resistir. Diria mesmo que seria interessante mostrar o período de 1985, a começar com as sessões de One Vision (bom para fazer a ponte com o Live Aid), até à gravação de No One But You em 1997, num pungente final que podia muito bem ser a emulação do videoclip, por exemplo.
A ideia de uma sequela para BohRhap é muito apelativa ao lado emocional em cada um de nós. Como fãs, não nos fartamos de Queen! E mais, aparentemente, nunca é demais. E depois do sucesso retumbante do 1º filme, só de pensar que há hipótese de um 2º filme é o suficiente para embarcarmos com entusiasmo no hype. Porquê? Há tanta diversão de estúdio em One Vision. A Magic Tour tem muito para contar, desde a gravação do álbum (com as sessões do filme Highlander) até aos históricos concertos na Hungria, Wembley e Knebworth. A cover de The Great Pretender e Barcelona seriam pontos altos também. E por fim, as sessões de The Miracle e Innuendo, onde vemos uns Queen renovados, rockeiros e mais “agrupados” que nunca. São muitos pontos altos ainda por contar. E sim, há matéria suficiente para um novo filme. E convenhamos, ter uma recriação de porções do Wembley86 seria só magnífico! Pensem nisso, um concerto em todo o seu esplendor… Ou a chegada a Budapeste? A festa de encerramento da tour…
Agora, pondo a emoção de lado. Não me agrada muito uma sequela… Recordemos vários factos. O filme demorou 10 anos a “levantar voo” e resultou num fenomenal sucesso. Uma sequela, por lei quase, não pode demorar tanto tempo a ser “preparada” (senão o flop é certo), irá quase de certeza de ter um budget mais elevado (outra lei não escrita) e será ser novamente tão triunfante na award season. Tudo estigmas para quem dirigir o filme. Superar as receitas na bilheteira também será praticamente impossível… Obviamente que boa parte do caminho foi percorrida anteriormente, produção dedicada e actores que se empenharam ao máximo e emularam na perfeição a banda. Fica também a faltar um realizador…
Outro facto a levar em linha de conta é o sentido definitivo que o filme parece querer encerrar. May sempre foi muito específico: a história a contar na tela acaba ali, na coroa de glória de Freddie. O diagnóstico da doença, cronologicamente errado para efeito dramático em BohRhap, ia criar um problema na sequela. Há a história com Paul Prenter e Jim Hutton, que também foram amalgamadas para caber num filme único. Criar uma sequela iria levantar novas e desnecessárias imprecisões. As que tivemos em Bohemian Rhapsody foram (quase) todas criadas para efeito dramático. Um novo filme ou iria fazer um retcon de muito do que vimos (erro!) ou iria persistir nos erros, meramente pela necessidade imprevista de uma sequela. E depois há outra coisa: querem mesmo ver Freddie a definhar na tela gigante? Mesmo que não seja focal na história, a progressão da doença, a sua morte e ausência serão sempre pontos importantes. Queremos mesmo isso? Eu não… Podemos ter também um filme mais dramático e tecnicamente mais perfeito, mas menos festivo e com menos festa… Interessa-vos? É uma pergunta interessante. Algo mais realista, mais virado para o drama da SIDA, da convivência dos 4 nos últimos anos e como lutaram, unidos, em estúdio para produzir música.
Prefiro que May & Taylor continuem firmes na intenção inicial de fazerem um filme único e definitivo, que finaliza com Freddie no topo do Mundo. Não vale a pena correr o risco de manchar tudo o que este filme conseguiu. E foi tanto…
Criar uma sequela parece tão boa ideia, de facto. Mas olhando aos factos e ao funcionamento da indústria, dificilmente será um exercício tão prazeroso como o original. Viverá um estigma enorme de repetir o alcançado anteriormente. E não nos podemos esquecer, estas coisas não são feitas à medida para os fãs. Mais guardarmos este como um capítulo único e de glória.