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“É epitáfio teatral perfeito para uma vida dedicada a um lindo artifício.” - Entertainment Weekly

«Dedicado ao espírito imortal de Freddie Mercury»

O décimo quinto álbum de estúdio dos Queen foi também o último realizado com Freddie Mercury.

Após a morte de Freddie, em Novembro de 1991, John, Roger e Brian passaram os quatro anos seguintes a trabalhar esporadicamente num novo projecto com as gravações vocais deixadas pelo colega desaparecido. Foi um processo bastante exigente a vários níveis, e sem precedentes em termos de angústia pessoal, mas quando Made In Heaven surgiu, em 1995, depressa se impôs como um dos melhores e mais bem conseguidos discos da banda.

Made In Heaven recebeu o título de uma das músicas de Freddie incluídas no seu álbum de estreia a solo de 1985, que os Queen recuperaram para este projecto. O disco foi gravado nos Mountain Studios, em Montreux, Suíça, e produzido pelo grupo. Contou ainda com a coprodução e engenharia de som de David Richards e assistência de Justin Shirley Smith e Joshua J. Macrae.

Apesar de Freddie ter sido advertido pelos médicos em 1988 que poderia já não estar presente para finalizar o projecto em que ele e a banda estavam a trabalhar, o álbum The Miracle (lançado em Maio de 1989), Freddie não só conseguiu terminá-lo, como também concluiu o projecto seguinte, Innuendo, editado no início de 1991. Contudo, no final das gravações deste último, a sua saúde e a sua condição física estavam já seriamente comprometidas. Apesar das inúmeras dificuldades, Freddie manteve-se totalmente focado em fazer música, determinado a gravar mais e mais, até já não aguentar. O seu desejo era, sempre que possível, e sobretudo em termos de trabalho, que tudo continuasse como antes, por isso ele e a banda quiserem gravar o máximo que conseguissem no tempo que lhes restava. A primeira metade de 1991 foi um período ode gravações sem precedentes na carreira do grupo, regido em grande parte por Freddie e pela sua saúde frágil. A banda trabalhava quando Freddie conseguia e, na sua ausência, preparava material para quando ele voltasse, nunca sabendo quando seria a última sessão.

Brian May: «Quando estávamos a gravar estas faixas, conversávamos e sabíamos que estávamos a viver um tempo emprestado. Por isso, o plano era aproveitar o Freddie ao máximo. Durante algum tempo, vivíamos praticamente no estúdio, e ele ligava e dizia: ‘Hoje, consigo ir algumas horas’. O nosso objectivo era aproveitar tudo o que pudéssemos. Ele dizia-nos: ‘Ponham-me a cantar qualquer coisa. Escrevam-me o que quiserem e eu canto. Darei TUDO de mim. Vou deixar-vos o máximo material que conseguir.»

Roger Taylor: «O Freddie sabia que o seu tempo era limitado e desejava realmente continuar a trabalhar. Sentia que essa era a melhor forma de manter o ânimo e queria deixar-nos tudo o que lhe fosse possível. Naturalmente, concordámos e apoiámo-lo até ao fim.

Em The Miracle, ele não estava assim tão mal. E aquilo foi mais um esforço, um longo álbum a fazer. Mas com Innuendo, ele já não se sentia muito bem. Julgo que há alguns desempenhos extraordinários naquele álbum, acho que todo ele é bastante forte. Muito emocional.»

Independentemente das dificuldades pessoais, no ambiente familiar do estúdio de gravação e estimulado por um espírito de camaradagem no seio da banda nunca visto desde os primeiros tempos dos Queen, Freddie encontrou forças para exibir alguns dos desempenhos vocais mais extraordinários da sua carreira. Brian recordaria mais tarde que Freddie mal se conseguia manter de pé durante as últimas sessões de gravação no estúdio Mountain; cada hora de trabalho exigia-lhe um esforço sobre-humano e, contudo, nada disto transparece no álbum final. É difícil acreditar que aquela voz magnífica em canções como A Winter’s Tale e Mother Love tenha sido gravada por alguém tão fisicamente debilitado como Freddie estava naquela altura.

Roger: «Penso que a última coisa que ele queria era chamar a atenção para qualquer tipo de fraqueza ou fragilidade – as quais, apesar de tudo, eram muito evidentes. Ele não queria ser alvo de pena nem nada do género. Foi incrivelmente corajoso em relação a tudo.»

Brian: «Esse período foi realmente, por muito estranho que pareça, bastante feliz. É esquisito dizer isto, e as pessoas vão odiar-me por o fazer, mas sei que o Freddie viveu alguns bons momentos nesses últimos tempos. Foi duro, mas houve muita alegria durante as gravações finais. Freddie não deixou que se tornassem tempos sombrios. Ele estava sempre ‘para cima’ no estúdio, sempre cheio de ideias, entusiasmo em muita paixão.

Acredito que talvez uma parte dele pensasse que podia haver um milagre. Acho que todos pensávamos o mesmo. É o que se faz, não é? Nunca perder a esperança. E o Freddie era certamente assim. Nunca o vi render-se, pôr a cabeça entre as mãos, ficar desesperado, nunca, nunca. Ele seguia sempre em frente. E nós tivemos alguns momentos muito divertidos. Estávamos muito focados e muito unidos enquanto grupo. Julgo que percebemos quão preciosos aqueles momentos possivelmente iriam ser.»

A derradeira canção gravada por Freddie foi uma coautoria com Brian, Mother Love. A parte vocal é arrepiante da primeira à última nota, e como este é o tema que Freddie nunca conseguiu acabar, o último verso é cantado por Brian. A faixa tem um trecho final curioso, sob a forma de breves samples tirados do primeiro single dos Queen, Seven Seas Of Rhye (1974), da versão cover de Freddie de Goin’ Back (lançada sob o nome de Larry Lurex, em 1973) e de um momento breve de um dos concertos mais memoráveis dos Queen no Estádio de Wembley, em Julho de 1986. E depois, de repente, com o choro de um bebé e uma nova vida que nasce, a canção termina.

Brian: «Fred, como de costume, chegou a um ponto e disse: ‘Não, não, não! Isto não é suficientemente bom. Tenho de chegar mais alto. Tenho de pôr mais energia nisto. Isto tem de ter mais força’. Então, bebe dois vodkas, levanta-se e insiste. Podemos ouvi-lo numa parte de Moher Love, quando eleva a sua voz a uns tons incrivelmente altos. E este é o homem que realmente já não aguenta mais, que tem dores incríveis e está muito fraco. Já não tem carne nos ossos e, ainda assim, podemos ouvir a força e a vontade que ainda lhe restam. Está a dar tudo de si.

Ele sabia que podia ser a última vez em que conseguiria cantar e, naquele caso, foi.»

Perto do final da sua vida, o próprio Freddie comentou que, apesar da deterioração física, se sentia extremamente grato por a sua voz ter permanecido incólume. Mesmo assim, chegou inevitavelmente a hora em que deixou de conseguir trabalhar. Tinha feito as gravações finais e nunca mais voltaria ao estúdio. As últimas gravações vocais de Freddie Mercury estavam guardadas e cabia agora aos restantes membros do grupo fazer a sua magia. Com instruções estritas deixadas por Freddie – a não menos importante de todas. ‘Façam o que quiserem com a minha música, mas NUNCA me tornem chato!’ –, John, Brian e Roger completariam as músicas e o álbum sem o seu querido companheiro.

Além do material totalmente novo, Made In Heaven apresenta também faixas da carreira a solo de Freddie, embora revisitadas e trabalhadas de novo, mas em que estão patentes, do princípio ao fim todas as características e técnicas de produção familiares e distintivas dos Queen.

O conceito de capa do álbum, da autoria dos Queen e de Richard Gray, simboliza a eternidade do vocalista na estátua de Freddie Mercury (esculpida por Irena Sedlecka), a olhar para o Lago de Genebra, na Suíça, num sumptuoso cenário do nascer do sol. Aquele foi o local onde Freddie tinha escrito e gravado as suas últimas canções e que tanto o inspirara e influenciara. No interior, a capa dupla mostra uma paisagem semelhante, mas desta vez ao pôr do sol. O CD apresentaria a fotografia do pôr do sol na capa.

A estátua é agora um elemento permanente à beira do lago, com um Freddie imponente a oferecer uma paisagem espectacular a quem o visita. A efígie é tão grandiosa quanto Freddie era no palco e tornou-se uma importante atracção turística. O líder inigualável dos Queen está de pé, contemplando (tal como descrevem as suas últimas letras) uma vista de cortar a respiração – a mesma que ele próprio tanto admirava e que imortalizou na letra de uma das suas últimas canções, A Winter’s Tale.

Made In Heaven, lançado a 6 de Novembro de 1995, foi promovido como «O admirável derradeiro álbum». De forma significativamente, John, Brian e Roger terminam as notas de agradecimento do álbum a frase «Dedicado ao espírito imortal de Freddie Mercury» ,

Apesar de as gravações terem decorrido sem o tão saudoso vocalista principal e amigo, o que foi extraordinariamente difícil, e com os membros da banda a realizarem também projectos a solo em simultâneo com as sessões de gravação, o disco tornar-se-ia rapidamente um dos mais populares entre os fãs e seria o álbum de estúdio dos Queen a tingir maior sucesso.

Made In Heaven subiu de imediato ao 1.º lugar no Reino Unido, Áustria, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Espanha, Holanda, Nova Zelândia, Polónia, Portugal, Suécia, Suíça e Itália. Ficou no top tem também no Japão, e na maioria dos países do mundo, atingindo várias marcas de Platina, vendendo mais de 20 milhões de cópias.

​Disc 1
1 - It's A Beautiful Day  (Queen)
2 - Made In Heaven  (Freddie Mercury)
3 - Let Me Live  (Queen)
4 - Mother Love  (Brian May/Freddie Mercury)
5 - My Life Has Been Saved  (John Deacon)
6 - I Was Born To Love You  (Freddie Mercury)
7 - Heaven For Everyone  (Roger Taylor)
8 - Too Much Love Will Kill You  (Brian May)
9 - You Don't Fool Me  (Queen)
10 - A Winter's Tale  (Queen)
11 - It's A Beautiful Day (reprise)  (Queen)

​Disc 2
1 - Heaven For Everyone (Single Version)  (Roger Taylor)
2 - It’s A Beautiful Day (B-Side Version)  (Queen)
3 - My Life Has Been Saved (1989 B-Side Version)  (John Deacon)
4 - I Was Born To Love You (Vocal & Piano Version)  (Freddie Mercury)
5 - Rock In Rio Blues (Live B-Side)  (Queen)
6 - A Winter’s Tale (Cosy Fireside Mix)  (Freddie Mercury)

 

(Made In Heaven (2011 Remaster) (Deluxe Edition))

 

OS SINGLES

O primeiro single, surgido duas semanas antes do lançamento do álbum, foi Heaven For Everyone. Lançado no Reino Unido a 23 de Outubro de 1995, entrou para o 2.º lugar das tabelas, mas nunca chegou ao topo.

Seguiu-se A Winter’s Tale, acompanhado de Thank God It’s Christmas e de um terceiro tema: uma faixa ao vivo chamada Rock In Rio Blues, gravada num gigantesco concerto dos Queen no Brasil, uma década antes. Lançado a 11 de Dezembro, o single atingiu o 6.º lugar das tabelas no Reino Unido.

O terceiro single editado no Reino Unido e em alguns países da Europa (e também o primeiro do álbum lançado nos Estados Unidos) foi Too Much Love Will Kill You. Lançado a 26 de Fevereiro de 1996, num vinil rosa de 7”, e acompanhado dos clássicos We Will Rock You e We Are The Champions, editados em single duplo em 1977, o disco atingiu o 15.º lugar.

A 17 de Junho de 1996, Let Me Live (acompanhado de outros clássicos lançados em 1978; Fat Bottomed Girls e Bicycle Race) foi o quarto single editado e atingiu o 9.º lugar nas tabelas do Reino Unido.

O último single do álbum Made In Heaven no Reino Unido foi You Don’t Fool Me. Lançado a 18 de Novembro de 1996, alcançou o 17.º lugar nas tabelas e foi também um enorme êxito em toda a Europa, ficando entre os 30 primeiros lugares em muitos países e em 1.º em Itália. Os vários singles editados por todo o mundo continham inúmeros remixes da faixa, bem como a versão do álbum.

No Japão, foi editado um single com uma faixa única – I Was Born To Love You – em Fevereiro de 1996, em conjunto com a cerveja Kirin para promover a marca na televisão, rádio e cinema. Mais tarde, em 2004 também no Japão, a canção foi usada como tema da série dramática de televisão Pride, e o single lançado posteriormente atingiu o primeiro lugar.

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